Há cerca
de dez anos, a Fundação Cultural do Tocantins era presidida pela bailarina,
coreógrafa e produtora cultural Meire Maria Monteiro, a mesma mulher que
calçava sapatilhas para dançar para os peões de obra durante a construção de
Palmas, anos antes. Ao longo de sua gestão, Meire teve a oportunidade de
conhecer de perto as manifestações populares do Estado, como os festejos do
Divino em Natividade, a Caçada da Rainha, em Monte do Carmo, as Cavalhadas de
Taguatinga, a Romaria do Bonfim, o entrudo de Arraias e muitas outras. Foi
quando compreendeu a essência cultural do povo tocantinense, herdeiros de conhecimentos
muito anteriores à criação política do Estado e da sua Capital.
O tempo passou, Meire Maria deixou a gestão pública, mas não perdeu a vontade de colaborar com a manutenção do patrimônio cultural do Estado, sempre ameaçada pelas facilidades do mundo contemporâneo. O resultado de todos os seus esforços estão condensados em Ritus e Rituais - Uma trilha étnica pelos rios Araguaia e Tocantins, novo espetáculo da Cia Contágius de Dança, que enfim reuniu suas duas grandes paixões: a dança e a cultura tocantinense.
Patrocinado pelo Prêmio Arnaud Rodrigues 2011, de apoio a montagem de espetáculos de artes cênicas, do Governo do Estado, Ritus e Rituais será apresentado ao público nos próximos dias 26 e 27, às 16 e 20 horas, no Teatro do Sesc, em Palmas. A entrada valerá 1 kg de alimento não perecível. Nesta quinta, 21, a partir das 20h30, haverá uma exibição especial para jornalistas e convidados na sede da Escola Contágius de Dança. Meire explica que não será o espetáculo integral, para não antecipar o impacto de algumas passagens que considera cruciais, mas será o suficiente para transmitir aos convidados a mensagem que ela quer passar. É mais que o suficiente para encantar seus convidados formadores de opinião.
A reportagem acompanhou uma manhã de ensaio, e revela um pouco do que o público amante das artes vai encontrar. Assinando toda a coreografia de Ritus e Rituais, Meire Maria buscou reunir elementos da cultura tocantinense com o balé clássico e a dança contemporânea. No palco, as bailarinas Liu Moreira, Verônica Shultz e Daniela Campos, todas formadas por Meire Maria, revelam a forte presença feminina e a herança dos negros na formação cultural do Estado, entre outros.
Repetindo um recurso utilizado na montagem anterior da Contágius, o espetáculo Sós e Nós, que ano passado circulou dentro e fora do Tocantins, as bailarinas dão espaço à interpretação de “ladainhas”. Há também uma coreografia que reúne, a um só tempo, a música de Villa Lobos e Dorivã Borges com uma declamação de João Pacífico.
Por sinal, a presença do cantor e compositor Dorivã e do percussionista Murilo Borges é outro elemento representante da cultura tocantina. Munidos de violão, atabaque, caixas (comuns nas folias) e onça (tambor rústico que imita o som do animal), os músicos dão o tom da maioria das coreografias. Além de ritmos e canções populares, como a sússia e a jiquitaia, há uma música inédita de Dorivã, composta para o espetáculo, que faz alusão aos rios e suas lavadeiras e à Guerrilha do Araguaia.
Enfim, pode-se afirmar que, após o sucesso de Sós e Nós, que levou a Cia Contágius a participar da abertura do Seminário Internacional de Dança de Brasília, em 2012, feito inédito para um grupo de dança tocantinense, a cobrança por um espetáculo que superasse a montagem anterior foi suprida. É o que o público poderá conferir.
